Graças ao sucesso alcançado por Nausicaä do Vale do Vento (Kaze no  Tani no Naushika), nasce em 1985 o Studio Ghibli. Sua história, porém,  começa a nascer 30 anos antes com o encontro de Hayao Miyazaki e Isao  Takahaka, futuros pais do estúdio. Em 1974 os dois se encontravam  durante a produção de um Anime de grande sucesso no mundo inteiro –  inclusive no Brasil -, Heidi  Arupusu no Shojo Haiji). Enquanto Takahaka  dirigia as séries, Miyazaki fazia um trabalho sobre-humano para  conseguir desenhar o layout de cada episódio detalhadamente. Isso fez  com que os dois percebessem que para fazer as animações de alta  qualidade, como desejavam, precisariam de um tipo de mídia onde os  prazos não fossem tão apertados como são nas séries de televisão. Foi  assim que surgiu a idéia da criação de um estúdio para produzir filmes  cuidadosamente desenhados, com enredo e qualidade impecáveis.
 Assim, o primeiro filme do Studio Ghibli, que estreou em 1986, foi  Laputa, O Castelo no Céu ( Tenkyo no Shiro Rapyuta) levando 775 mil  pessoas aos cinemas – um sucesso de bilheteria e de crítica. Sempre  inovando, 2 anos depois, o Studio Ghibli surpreendeu mais uma vez  lançando dois filmes ao mesmo tempo. Para muitos estúdios esse desafio  seria impossível de se cumprir sem comprometer a qualidade da animação  ou a gestão dos recursos, mas Meu Vizinho Totoro ( Tonari no Totoro),  dirigido por Hayao Miyazaki, e Túmulo dos Vaga-lumes (Hotaru no Haka),  de Takahaka, se tornaram obras primas consideradas por muitos os  melhores filmes do Studio Ghibli até hoje. Atualmente o logo do Studio  Ghibli é o perfil de Totoro, personagem principal do filme.
 O reconhecimento que esses filmes trouxeram ao Studio Ghibli foi um  dos fatores que contribuiu para que o próximo filme atingisse um número  surpreendente de expectadores. Aproximadamente 2,64 milhões de pessoas  foram ao cinema em 1989 para assistir O Serviço de Entregas da Kiki  (Majo no Takkybin), fazendo com que esse fosse o filme mais visto no  Japão durante aquele ano. Diante desse grande sucesso, aquele pequeno e  idealizado estúdio de animação ficou muito limitado, então algumas  mudanças operacionais no estúdio mostraram-se necessárias, fazendo com  que houvesse uma grande reforma.
 Até 1989 o Studio Ghibli não mantinha funcionários fixos e eles eram  pagos por cada célula desenhada. Apesar disso ser o normal na indústria  da animação, fazia com que o salário do pessoal do estúdio fosse abaixo  do merecido. Assim, depois do lucro gerado por Kiki, a direção do Studio  Ghibli decidiu regularizar os funcionários que passaram a trabalhar em  período integral e ter um salário fixo. Além disso, foi decidido que  seriam contratados novos animadores regularmente.
 O presidente do Studio Ghibli foi muito importante para que essas  mudanças pudessem ocorrer. Yasuyoshi Tokuma, um grande empresário  japonês acreditava no estúdio e por isso deu e ainda da total liberdade a  Miyazaki e Takahaka, raramente influenciando nas decisões. Mesmo assim,  nos momentos cruciais de dificuldade, Tokuma sempre aparece para tomar  conta da situação e garantir o futuro do Studio Ghibli.
 O alto custo dessas mudanças que dobraram o valor pago pelo estúdio  aos seus funcionários foi compensado pelo próximo filme de Isao  takahaka. Only Yesterday ( Omohide Poroporo) foi muito bem recebido pelo  púbico, fazendo também com que fosse o filme mais visto no Japão em  1991. O diretor executivo da época, Toru Hara, definiu a política do  Studio Ghibli como “3As”: Alto Custo, Alto Risco e Alto Retorno. Baseado  nisso, após Only Yesterday o estúdio começou a investir mais em  marketing. Esse investimento, porém não foi visando altos lucros para  abastecer o bolso de ambiciosos executivos e sim pagar o salário dos  animadores responsáveis por tão belos trabalhos e garantir um  financiamento para o próxima longa do estúdio.
 Com funcionários trabalhando em tempo integral, não havia tempo a  perder. Por isso, antes mesmo que Only Yesterday fosse concretizado, o  estúdio já havia iniciado a produção de Porco Rosso (Kurenai no Buta).  Isso logo fez com que o espaço físico do estúdio ficasse muito apertado.  Eram aproximadamente 90 pessoas em um espaço de 300m². Por isso, apesar  de não haver recursos suficientes, Hayao Miyazaki sugeriu que uma nova  sede fosse construída. Toru Hara era contra a idéia e por isso acabou se  afastando do Studio Ghibli, mas o presidente Tokuma encorajou a decisão  dizendo que ele havia dinheiro suficiente no banco e poderia bancar a  obra.
Assim, durante um bom tempo Hayao Miyazaki ficou trabalhando sozinho  na produção de Porco Rosso e na planta do novo estúdio. Ele foi o  responsável pela arquitetura do prédio e por organizar a construção de  modo que ela ficasse o mais parecida possível com o que ele planejava.  Em 1992 ficaram prontos o novo filme e a nova sede. O novo prédio, de  1100m² foi construído na cidade de Koganei, no distrito de Tokyo. Porco  Rosso… mais uma vez teve a maior bilheteria do ano superando clássicos  como A Bela e a Fera, da Disney que estreou naquele mesmo ano.
 Em 1993, o Studio Ghibli comprou 2 câmeras computadorizadas fazendo  assim com que o departamento de fotografia do estúdio pudesse ser enfim  concretizado. O novo prédio tinha espaço e recursos para todos os  departamentos de um estúdio de animação completo, isso permitiu que o  Studio Ghibli pudesse se tornar ‘auto-suficiente’, deixando de depender  de outras empresas para a fotografia. Ao contrário da tendência da  indústria de animação, o Studio Ghibli queria que todos os passos dos  longas fossem feitos lá.
 Nesse mesmo ano, pela primeira vez um diretor que não o Miyazaki ou o  Takahaka dirigiu um filme. Trata-se de Ondas do Oceano (Umi ga  Kikoeru), de Tomomitsu Mochizuki. O filme de 70 minutos foi um especial  elaborado para a televisão principalmente por animadores recém  contratados que haviam feito carreira no estúdio.
 Em 1994, foi lançado A Guerra dos Guaxinins (Heisei Tanuki Gassen  Ponpoko), que, ‘para variar’, também foi o mais visto no ano. Esse filme  foi o primeiro do estúdio em que foi utilizado CG (ou computação  gráfica). Nesse ano, o Studio Ghibli contava com 99 funcionários. 46  animando, 8 pintando, 12 desenhando, 4 fotografando, 12 dirigindo e  produzindo, 5 divulgando e 12 administrando.
 Sussurros do Coração ( Mimi wo Sumaseba), de 1995 também trazia  inovações. Dessa vez, Miyazaki cuidou da produção e do roteiro, deixando  a direção para o Yoshifumi Kondo. Com isso, Hayao Miyazaki visava  treinar seus animadores para que eles pudessem um dia assumir as rédeas  do estúdio. Yoshifumi Kondo já havia sido diretor de animação em Túmulo  dos Vagalumes, Kiki e Only Yesterday, sendo inclusive muito disputado  entre Miyazaki e Takahaka. Com Sussurros do Coração, Kondo se mostrou um  habilidoso e experiente diretor pronto para encarar os desafios típicos  do Studio Ghibli.
 Dois anos depois, em 1997, Hayao Miyazaki concluiu o filme que lhe  deu a maior projeção internacional até então. A Princesa Mononoke  (Mononoke Hime) surpreendeu o mundo todo com um filme muito maduro e  sincero. Tratando de um assunto que a cada dia que passa fica mais  atual, Mononoke mostrou na época a capacidade do diretor de atingir  qualquer público com suas animações. Esse trabalho também contou com uma  grande parcela de CG (Computação Gráfica), a partir de modernos  equipamentos adquiridos pelo Studio Ghibli. Com o advento da tecnologia  naqueles dias, o estúdio utilizava esse recurso para cobrir cenas  simples porém trabalhosas de serem feitas a mão.
 Como ficou evidente até aqui, um dia de trabalho no Studio Ghibli é  sempre um desafio a ser vencido, o que faz com que haja um esgotamento  muito grande por parte dos animadores. Por causa disso, depois de  Mononoke, Hayao Miyazaki anunciou que se aposentaria da escrivaninha,  trabalhando apenas ocasionalmente fazendo roteiros e dando assistência.  Com isso, o diretor desejava também dar um espaço maior para os jovens  animadores. No ano seguinte, porém, a trágica morte de Yoshifumi Kondou  abalou fortemente o Studio Ghibli. Vitima de um aneurisma, Kondou  mobilizou seus vários fãs e colegas de trabalho com a perda de um dos  melhores animadores de Studio Ghibli. Nesse mesmo mês, Hayao Miyazaki  perdeu o rumo dos acontecimentos se afastou oficialmente do estúdio  fundando uma nova empresa, chamada Butaya. No ano seguinte, porém,  Miyazaki volta ao Studio Ghibli, com novos planos.
 Em 1999, Isao Takahaka termina Meus Vizinhos Yamadas (Tonari no  Yamada-kun), filme totalmente computadorizado feito a partir de sketches  aquarelados. Esse é o último filme de Takahaka até o anuncio de que ele  estaria planejando outra longa, em 2008. Em 2001, é lançado a Viagem de  Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi) de Hayao Miyazaki. O filme, que  estreou também nos cinemas brasileiros, também garantiu seu sucesso no  mundo todo conquistando além de vários outros prêmios importantes, o  Urso de Ouro em Berlim e o Oscar de melhor animação. Apesar disso,  Miyazaki mais uma vez anunciou o fim da sua carreira como diretor, porém  voltando atrás novamente alguns anos depois.
 2002 é o ano de O Reino dos Gatos (Neko no Onegashi), filme que,  traçando um paralelo com Sussurros do Coração, utiliza alguns dos  personagens como Muta, o gato e o barão em um enredo totalmente  independente. Foi nessa ocasião que o Miyazaki mais uma vez assegurou  seus fãs que não pretende fazer uma continuação para nenhum de seus  filmes.
 Em 2004 Miyazaki conclui outro filme de grande projeção  internacional, O Castelo Animado (Hauru no ugoku shiro). O filme que  conta com alguns trechos de CG traz um extra que mostra pela primeira  vez detalhes das técnicas de computação utilizadas no Studio Ghibli.
   Dois anos depois, Goro Miyazaki, o filho do diretor Hayao dirige seu  próprio filme. Contos de Terramar (Gedo Senki), de 2006 foi uma produção  muito polêmica, pois apesar de ter a qualidade dos filmes do Studio  Ghibli, causou estranheza a muitos fãs e inclusive ao próprio pai do  diretor, Hayao Miyazaki. Isso garantiu ao longa diversos prêmios – tanto  positivos quanto negativos – por todo o mundo.Em 2008, Toshio Suzuki, o presidente executivo do estúdio que havia  assumido em 2005 se demitiu do cargo. Apesar disso, ele continuou  trabalhando no Studio Ghibli como produtor. O ex-presidente afirmou que  ao invés de exigir que os animadores fizessem um bom trabalho, ele  queria fazer isso com as próprias mãos. Assim, a presidência executiva  do estúdio passou para as mãos de Koji Hoshino. Nesse mesmo ano, foi  lançado o mais novo filme do Studio Ghibli e do Hayao Miyazaki. Ponyo no  Penhasco à Beira-mar(Gake no Ue no Ponyo) é o resultado de anos de  trabalho. O filme foi totalmente desenhado a mão sem nenhum tipo de  computação gráfica, mas mesmo assim foi um enorme sucesso no Japão e no  mundo. Aqui no Brasil, o filme deve chegar em Julho de 2009.E é assim que depois de anos e anos, o Studio Ghibli continua firme e  forte produzindo longas que encantam todas as gerações. Com a carreira  do Miyazaki próxima do fim, o futuro do estúdio é incerto, mas fãs do  mundo todo têm esperança de que sempre haverá alguém trabalhando para  manter esse sonho vivo.
Filmografia do Estudio Ghibli
 Pré-Ghibli
 1968 – Horus: O Príncipe do Sol 1972 – Panda! Go, Panda! 1979 – Lupin III: O Castelo de Cagliostro 1984 – Nausicaä do Vale do Vento  Filmes Ghibli 1986 – Laputa: O Castelo no Céu 1988 – Meu vizinho Totoro 1988 – Túmulo dos Vagalumes 1989 – O Serviço de Entregas de Kiki 1991 – Only Yesterday 1992 – Porco Rosso 1993 – Ocean Waves 1994 – Pom Poko 1995 - Whisper of the Heart 1997 – Princesa Mononoke 1999 – Meus vizinhos Os Yamadas 2001 – A Viagem de Chihiro 2002 - O Retorno dos Gatos 2004 – O Castelo Animado 2006 – Contos de Terramar 2008 – Ponyo 2010 – Karigurashi no Arrietty
continua...